Ah, como a vida é perfeita na internet, não é mesmo? Namoros incríveis, com as melhores fotos de casal… discussão? Que isso? Pessoas maravilhosas, amigos inseparáveis, festas, viagem todo fim de semana, vida saudável e looks fashionistas. Não parece familiar? Sorry.
Passamos mais de 650 horas por mês em redes sociais. Seja olhando a vida dos coleguinhas ou falando sobre a nossa, não queremos passar uma “má impressão” na rede (Deus me livre ser normal). No mundo virtual é muito mais fácil ter contato com as pessoas, ser descolado e emitir opinião. (#ThanksCibercultura) E tudo que queremos é um simples like pelamordedeus.
Cada vez mais valorizamos os likes ou quantidade de seguidores. Entendemos esses números como validação de quem somos. É a constante espera pela aprovação do outro para se considerar relevante. A série Black Mirror (da nossa amada Netflix <3) expõe em um dos seus episódios (S03E01) essa nova realidade, como ela já tem afetado nossas vidas e até onde pode chegar. #issoétãoblackmirror
A autora Sherry Turkle analisa em seu livro Life on the Screen como a tecnologia está moldando nossas relações: com os outros, com nós mesmos e com o todo. Turkle também destaca a possibilidade de viver uma vida paralela no universo digital, inicialmente, como uma forma de explorar a diversidade de cada um.
Porém, a autora conclui que essa personificação virtual pode levar a insatisfação com a rotina e a vivência com pessoas reais. Em sua apresentação no (famosinho) TED, Sherry inicia dizendo como ela pensava, na década de 90, que a internet e a vivência digital, auxiliariam nas relações, ajudando as pessoas a se conhecerem mais e se tornarem indivíduos melhores no mundo real. #sóquenão.
Algumas matérias falam sobre essa relação entre Expectativa vs Realidade, que muitas vezes resulta em frustração e é algo bastante comum na geração Y (os nascidos entre a década de 80 e meados dos anos 90). Simplificando, isso quer dizer que temos a tendência de ver as coisas melhores para o outro e acabamos criando expectativas muito altas para nós mesmos. Comparada a realidade, a internet e a perfect way of life do Instagram só alimentam esse sentimento com pessoas, supostamente, sempre bem resolvidas e felizes.
Quem não surta com a ideia de ficar sem internet em casa ou, pior ainda, no celular? #tamojunto
No contexto que vivemos hoje, acabamos nos tornando dependentes dessas redes sociais (nem adianta negar!). Atualizar o status no Facebook, postar algo novo no Instagram, contar alguma coisa no Twitter… qualquer coisa! Só não pode ficar desatualizado.
E além de caprichar na nossa vida online, não pode faltar aquela conferida (famosa stalkeada) básica na vida de pessoas que seguimos, principalmente, se for famoso.
Quanto mais distante da nossa realidade, “melhor”, né? Mas pra quê? Melhor pra curtir, seguir, admirar? Mas e para a nossa saúde mental?
Em uma pesquisa recente com jovens do Reino Unido, o Instagram assumiu o topo da lista das piores redes sociais para a saúde mental dos millennials. Através de um questionário, pessoas entre 14 a 24 anos avaliaram diversos aplicativos nas categorias ansiedade, depressão, solidão, bullying e imagem corporal.
Essa falsa ideia de que a vida de todo mundo é perfeita, tem levado muitos jovens à depressão e outros problemas psicológicos graves.
Em 2015, bombou na internet uma notícia sobre a australiana Essena O’Neill, que acabou ficando famosa no Instagram por suas fotos e decidiu expor o “lado negro” das redes sociais. Essena contou sobre a falsa felicidade, a necessidade de ganhar curtidas, agradar seus seguidores e viver uma vida baseando sua auto-estima na aprovação dos outros.
Em um vídeo, a influenciadora fala sobre a realidade de viver do Instagram, a divulgação de marcas através de suas fotos e como se tornou viciada, como ela mesma diz, em likes e elogios. Sempre esperando pela confirmação dos seus seguidores de que era linda, querida e idealizada (os famosos goals).
O’Neill faz questão de deixar bem claro o quanto essa busca por aprovação e perfeição trouxe infelicidade para sua vida. Algo que deveria ser divertido como tirar fotos e compartilhar bons momentos, passou a ser uma obrigação. E não apenas isso, mas a criação de uma falsa realidade, muitas vezes reforçando um padrão de beleza (e até mesmo de felicidade) difícil de alcançar para a maioria das pessoas.
Em pleno século 21, não temos como fugir nem do mundo virtual e nem da nossa realidade. As redes sociais são uma extensão de cada indivíduo nas redes. Alguns preferem ser apenas seguidores, outros acham o máximo ser emissor e criar essa persona online. De um jeito ou de outro, o excesso do mundo virtual não é positivo para nós, reles mortais. E não faltam estudos comprovando isso.
Pelo menos enquanto o futuro de Black Mirror não chega, nós vivemos e existimos apenas no mundo real. Invista nos seus relacionamentos fora da tela, cuide da sua saúde, seja quem você realmente é quando ninguém está olhando. Sua vida não pode ser medida por curtidas. 🙂
Texto: Mariana Gava.
Arte da capa: Luciano Oliveira.
Fontes:
http://qga.com.br/comportamento/jovem/2013/09/porque-os-jovens-profissionais-da-geracao-y-estao-infelizes
https://www.ufrgs.br/vies/ciencia-e-tecnologia/a-felicidade-em-tempos-de-facebook/